A investigadora Maria Campos, que já fez mais de 2.600 encontros entre familiares e pessoas desaparecidas, estava no caso desde a última quarta-feira (1): "Com o apoio da polícia civil de Rondonópolis, fizemos várias buscas e conseguimos lograr êxito". A menina foi encontrada em um assentamento em Guiratinga, MT. "Já estou com ela no carro, estamos levando ela pra casa neste momento", conta a investigadora.
Para o pai adotivo de Maiza, João Carvalho, o momento é de uma alegria inexplicável:
"Passamos dias de agonia aguardando uma ligação, alguma notícia, alguém que dissesse 'encontramos sua filha' e hoje esse dia chegou! Não tenho como explicar o quanto estou feliz", emociona-se o pai.
João e a esposa Jane Mary, adotaram Maiza quando ela tinha 2 anos. O pai biológico é irmão de Jane, e teve um relacionamento com a mãe biológica da menina por 4 anos. Quando o relacionamento acabou, nenhum dos dois quis ficar com a criança: "Ele queria viver a vida de solteiro dele e ela disse que iria embora para Portugal, então eles nos entregaram a Maiza. Nós não conhecíamos a menina, mas aceitamos cuidar dela como nossa filha". O casal detém a guarda definitiva de Maiza desde outubro do ano passado.
A menina de 6 anos foi levada pela mãe biológica, Gleice Mara Dias, no dia 30 de junho. Ela viajou de Rondonópolis (MT) até Bela Vista (MS), a 309km de Campo Grande, onde a família mora, para visitar a filha, acompanhada de uma advogada. Gleice prometeu levar Maiza no dia seguinte e não apareceu.
Mãe adotiva sentiu que algo estava errado
João conta que Maiza saiu de casa no sábado (30) pela manhã e que estava feliz: "Entregamos a Maiza no sábado cedo, ela estava toda sorridente, tinha visto a mãe poucas vezes nesses últimos 4 anos. Nós nunca escondemos nada dela sobre a adoção, ela estava feliz por encontrar a mãe".
Gleice deveria entregar a menina no domingo às 18h, e conforme se aproximava a hora marcada, a mãe adotiva ficava ansiosa: "A Jane me disse, 'meu coração me diz que tem alguma coisa errada' e quando passou das 18h e nada dela aparecer, entendemos o que tinha acontecido e fomos atrás" relata.
Desde então, os momentos de desespero que se seguiram ao sumiço da menina foram a rotina da família ao longo de um mês: "O desespero foi grande, a gente aguentou por conta de fé e do apoio de familiares e amigos mesmo", conta.
A participação da advogada
Gleice chegou na casa dos pais adotivos de Maiza acompanhada da advogada Ingrydys Hananda Mingoti. Em outubro do ano passado, o casal conseguiu a guarda definitiva de Maiza, mas no começo deste ano, a mãe biológica procurou a Justiça para revogar a decisão e ter a filha de volta. O pedido foi negado em primeira instância. Em seguida, a advogada de Gleice entrou com um processo para ela ter o direito de visitar Maiza, e conseguiram. A primeira visita ficou marcada para 30 de junho e Ingrydys veio de Rondonópolis acompanhando Gleice.
Segundo o pai adotivo de Maiza, a menina foi levada no sábado pela manhã, e no domingo, depois de passado a hora marcada para o retorno da criança, como Gleice não apareceu ele ligou para a advogada: "Ela me disse que já estava bem Rondonópolis e que tinha deixado as duas em Bela Vista. Quando falei que ela não apareceu e que queria saber onde estava a Maiza, ela me respondeu 'Se ela não devolveu a sua filha, isso não é problema meu', mas tenho certeza de que ela sabia de todo o plano e teve tempo suficiente para avisar as autoridades, mas não fez" conta.
O pai disse ainda que a advogada fez registro em duas pousadas em Bela Vista: "Como ela não apareceu na hora marcada, nós fomos procurar pela cidade. Descobrimos que em uma pousada ela se hospedou com a Gleice e em outra, ela fez o registro, pagou, e disse que viriam uns amigos para tomar banho. Quem veio foi o atual marido da Gleice. Então ela pegou as malas, levou para o outro hotel e foi embora. A dona da pousada registrou tudo isso por escrito, reconheceu firma e esse documento está no processo", afirma.
O pai da menina afirma que a advogada poderia ter percebido alguma movimentação diferente e avisado a família ou a polícia, mas não o fez: "Nós temos certeza de que ela foi conivente do início ao fim e aguardamos a polícia tomar providências". A advogada não atendeu às ligações da equipe do G1.
O que diz a polícia
Segundo o delegado Diego Satiro, delegado titular de Bela Vista, o caso corre em segredo de justiça e a polícia não pode dar mais informações sobre o caso. Sobre o envolvimento da advogada, o delegado afirma que está sendo investigado, a princípio. O atual marido da advogada já foi ouvido. Eles ainda não foram formalmente indiciados.
O delegado de Rondonópolis, João Paulo de Andrade, confirmou que a advogada e o atual companheiro da mãe da criança foram notificados para prestar depoimento.
Fonte: G1