Terça, 03 Outubro 2017

Delegacia de Pessoas Desaparecidas de Santa Catarina completa quatro anos de trabalho

Delegado Wanderley Redondo diz que 90% dos casos registrados são de falta de comunicação de familiares.

 Satisfeito e feliz com o trabalho desenvolvido até agora, o delegado Wanderley Redondo comemora os quatro anos de existência da Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas, com números expressivos. A delegacia que tem sede em Florianópolis, mas que abrange todo o Estado, completou quatro anos no último dia 24, e segundo Redondo os números apontam que dos 18,5 mil casos de desaparecimentos assumidos em 2013, hoje há apenas 2.500 desaparecidos registrados. “O maior problema é a falta da baixa dos boletins de ocorrência, quando os familiares encontram o desaparecido. Enquanto a baixa não for dada, ele continua nesse status”, diz.

Redondo conta que quando assumiu a delegacia, junto com uma equipe de sete profissionais – hoje a equipe tem o delegado e mais duas agentes -, foi feito um mutirão de trabalho para contatar as famílias dos 18,5 mil casos. “Doze mil eram de pessoas que não estavam desaparecidas. Houve falta de comunicação. A pessoa demora algumas horas para aparecer em casa, sofre algum imprevisto, e o familiar corre para a delegacia registrar o desaparecimento. Horas depois, ela aparece e isso não é comunicado. E no sistema, o status permanece como desaparecido. Isso ainda é um grande problema para trabalharmos, pois 90% dos casos é falta de comunicação, o que nos demanda tempo”, afirma.

Em média, são registrados oito desaparecimentos por dia no Estado. Redondo conta como trabalho é feito. “Fazemos um trabalho inicial de contato com os familiares, para saber se a pessoa continua desaparecida. Depois, através de um sistema conseguimos acessar informações atualizadas sobre prisões, entradas na Receita Federal, ocorrências com veículos, acesso ao status da CNH, registro na CDL [Câmara de Dirigentes Lojistas] e também aos registros do Ministério do Trabalho. Estamos trabalhando pra ter acesso aos usuários do programa Bolsa Família também. Com essas informações começamos a trabalhar, e se preciso vamos a campo, com investigações”, explica.

Falta de identificação dificulta o trabalho

O delegado Wanderley Redondo diz que por trás do trabalho da Delegacia de Pessoas Desaparecidas há também o de identificação, já que segundo ele, anualmente uma média de 35 pessoas são enterradas como indigentes no Estado. “Muitas pessoas não têm identificação e consequentemente dificulta o trabalho de busca de pessoas desaparecidas. “Percebemos em nossas abordagens, principalmente aqui em Florianópolis, que há um rodízio muito grande de pessoas, pois 90% delas são novas aqui quando vamos identificar. Então, coletamos as digitais e fotografamos para posteriormente inserir no sistema integrado de segurança pública do Estado. Esse sistema nos permite homologar até mesmo casos do interior, em qualquer lugar de Santa Catarina, o que nos dá uma grande autonomia”, diz.

A Delegacia de Pessoas Desaparecidas de Santa Catarina tem acesso ao sistema do Rio Grande do Sul, o que facilita o trabalho. “Estamos trabalhando para ter o acesso ao sistema do Paraná, pois com quase 200 casos de pessoas lá, podemos trabalhar com mais facilidade. Há quatro anos não tínhamos os recursos de hoje, está melhorando com essa integração de informações. Hoje podemos acompanhar tudo sobre desaparecimento e aparecimento em tempo real e integrado no Estado. Na década de 80 tivemos muito comércio ilegal de crianças, e há ainda reflexos desse mercado negro. Filhos querendo saber quem são seus pais”, afirma.

Casos marcantes para o delegado

Sobre as histórias que marcaram Wanderley Redondo nestes quatro anos à frente da delegacia, ele fala de reencontros e casos envolvendo crianças. “Uma mulher, hoje com 57 anos, com o auxílio de estudantes de direito nos procurou para fazer seus documentos de identificação, já que ela não tem nenhum. Buscamos um registro de nascimento dela em todos os cartórios da região que nasceu, porém, sem sucesso. Todas as vezes que ela vem aqui, senta na minha frente e chora, por não existir legalmente e ter dificuldades no dia a dia. Estamos agora trabalhando para tentar registrá-la. Nessa pesquisa, surgiu nessa mulher o interesse de conhecer a mãe, e conseguimos promover isso, foi emocionante”, conta o delegado.

Outros casos que Redondo citou foram os que envolvem crianças, que na maioria deles tem a família por trás do desaparecimento. “Há muitas investigações que levam a família como culpada do desaparecimento, até mesmo de possíveis homicídios. Outros envolvem afogamentos e a baixa só é dada quando o corpo é encontrado. Às vezes ficamos de mãos e pés atados, mas seguimos fortes nesse trabalho”, explica.

SERVIÇO

Delegacia de Pessoas Desaparecidas: informações pelos telefones (48) 3665-5595 e 181

A delegacia funciona de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h e das 14h às 18h

E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Fonte: Notícias do dia 

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