São 9 anos de angústia, dor e esperança. No dia 21 de junho de 2008, Lucas Pereira, então com 3 anos, desapareceu, em São Carlos. O pai do menino, Antonio Carlos Ratto, divulgou hoje, nas redes sociais, uma carta emocionada sobre o sentimento de vazio sem o filho.
O caso
Lucas Pereira desapareceu na manhã do dia 21 de junho de 2008, quando brincava na rua com o irmão Caio, que na época tinha 8 anos. Lucas, é carioca e mudou-se para a cidade com a mãe. O pai, hoje com 67 anos, estava em Cabo Frio. Ele recebeu a ligação de um dos irmãos da ex-mulher informando sobre o caso um dia antes de embarcar na plataforma de petróleo em que trabalhava.
Ratto voltou imediatamente para São Carlos e, ao chegar, soube que os familiares tinham registrado um boletim de ocorrência no plantão policial, mas que não chegaram a ir à delegacia. Desde então, o pai começou a busca dramática pelo filho. Hoje, Antonio mora no Rio de Janeiro com mais três filhos, e não desistiu de encontrar Lucas.
O menino estaria hoje com 12 anos. O caso foi arquivado pela Polícia Civil de São Carlos e encaminhado à Departamento de Homicídio e Proteção á Pessoa (DHPP) de São Paulo.
Desabafo
Nas redes sociais, Ratto publicou hoje, 9 anos sem seu filho, uma carta, com os sentimentos de dor e vazio que vem sentindo:
“Você sabe realmente o que é dor?
Meu filho está desaparecido. Eu não quero conselhos. Tudo que preciso é que você abra seu coração e caminhe comigo até que eu possa enxergar “a cores” novamente. O desaparecimento de meu filho é uma história de amor que conto através de lágrimas oriundas do fundo de minha dor. Houve o desaparecimento, mas não desapareceu o amor e este continuará pelo resto de minha vida.
Lucas dormia comigo. Ele não pegava no sono se eu não estivesse ao seu lado. Ele se acostumou com essa rotina. Eu inventava canções de ninar até ele pegar no sono. Com o quarto em penumbra, eu olhava aquele rostinho angelical e pedia a Deus para protegê-lo, aliás, peço até hoje.
Eu nunca vou esquecer o momento que lhe vi pela última vez. Seu rosto estava triste, seu olhar estava diferente, não houve sorriso. O meu também estava. Parece que nós prevíamos que alguma coisa ruim estava prestes a acontecer. Isto foi na hora da minha viagem para embarcar em alto mar. Todas as minhas viagens foram normais, alegres, mas esta não. Não sei porque, foi triste, melancólica. Nos olhamos até o momento final quando as portas se fecharam.
Ser pai de um filho desaparecido é aprender sobre a força que você não sabia que tinha e lidar com medos que você não sabia que existiam.
As lágrimas são silenciosas. Eu abraço meu travesseiro. Não há ninguém por perto e choro por alguém que amo, que está sumido. Sinto-me impotente, engessado e que não posso fazer nada para solucionar.
O que me conforta são os espíritos. Todos eles falam a mesma coisa: “fique calmo, quando você menos esperar, seu filho vai aparecer”. O tempo deles é diferente do nosso tempo, mas quando isto acontecerá ?
O tempo não tem aliviado a minha dor e exterminado meus medos e nas noites intermináveis, sem sono, as lágrimas já se tornaram rotina como o fluxo de um rio que não tem como estancá-lo.
As vezes eu encontro velhos amigos, que me conheceram alegre, sempre sorridente, confiante e falam: “como você mudou, você está mais triste”. Meu Deus, será que não conseguem imaginar, entender, compreender a profundidade da dor de um pai que perdeu seu filho ?
Para finalizar, nesta época do ano, nós participamos das festas juninas com as pessoas que gostamos. Eu não quero isto. Eu sei que não vou conseguir ser feliz. Eu peço que façam um pedido a Deus para que Ele proteja meu filho e se possível que me traga de volta. Isto sim me fará feliz. O resto é tudo supérfluo.
Obrigado amigos."
Fonte : A cidadeon São Carlos