Na oportunidade, o CFM ainda lançou abaixo-assinado cobrando a efetivação do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. No documento, a autarquia cobra a adoção pelas autoridades medidas que fortalecerão as buscas. Uma delas se refere à notificação compulsória dos casos, obrigando que as informações sobre esse tipo de situação, registradas em boletins de ocorrência, sejam automaticamente repassadas pela autoridade policial ao Ministério da Justiça, sem a necessidade de pedidos ou procedimentos por parte dos familiares.
A petição capitaneada pelo CFM também cobra do Ministério da Justiça providências para que o site www.desaparecidos.gov.br também seja atualizado diariamente, bem como a criação de uma campanha permanente junto à população para orientá-la sobre as medidas de prevenção ao desaparecimento de crianças e adolescentes.(leia mais)
Engajamento - Durante a abertura, o secretário-geral do CFM e membro da Comissão de Ações Sociais, Henrique Batista e Silva, destacou o trabalho da Comissão de Ações Sociais da autarquia e ressaltou o papel social de cada um presente. “Entendemos que o médico é um agente político de transformação social. A Medicina trata do ser humano e da coletividade, por isso o CFM tem a disposição para enfrentar e trabalhar por esta temática, mas é um problema tão hercúleo que não dá para uma só instituição resolver. Precisamos mobilizar as pessoas e a sociedade para a realidade do desaparecimento”.
Entendendo o papel do médico, o presidente do Conselho Regional de Medicina de Santa Catarina (CRM-SC), Nelson Grisard, afirmou que o Conselho trabalhará para o maior engajamento da categoria. “Faremos uma recomendação pessoal sobre isso. Abordaremos o tema com cada médico que for ao CRM alertando para que, ao atender uma criança, fique atento a procedimentos que auxiliam na busca por crianças desaparecidas. É uma obrigação humanitária”.
Já a secretária de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC, Francis Tourinho, ressaltou a união para a questão dos desaparecimentos principalmente para a prevenção. “A UFSC como instituição diversa e plural tem que formar os profissionais para que tenham essa visão, muito mais que bons técnicos, eles devem ser pessoas preocupadas com a humanidade. Precisamos aprender a nos unir não só pela dor, mas também pela prevenção”, destacou.
De acordo com dados compilados pelo CFM, estima-se que, no mundo, o total de casos de desaparecimento de crianças e adolescentes chega a 25 milhões. No Brasil há uma estimativa de que sumam 50 mil por ano. Em sua palestra, a Diretora de Políticas Públicas do ICMEC, Kátia Dantas, abordou alguns mitos do desaparecimento, como a tendência em achar que toda criança desaparecida é vítima de tráfico. “Existe a percepção de que a fuga é motivada apenas e necessariamente por casos de namoro, rebeldia ou vontade própria. A questão da fuga do lar está muito vinculada com conflitos intra-familiares, abusos, conflitos educacionais, altos índices de reincidência, pois se você não trata a causa a criança continua fugindo”, alertou.
Interações - A proposta da organização do evento era dar espaço para que cada participante pudesse interagir e apresentar soluções para o setor. Foram ouvidos os voluntários do Grupo de Apoio aos Familiares de Desaparecidos de Santa Catarina (Gafad) e da Rede Um Grito pela Vida, além de pais de desaparecidos e pessoas que se solidarizam e se preocupam com a causa. Para tanto, foram formados quatro grupos de participantes para que conversassem e juntos apresentassem ideias do acreditam que pode ser feito para mudar a realidade dos desaparecimentos nas diferentes áreas. As discussões e sugestões de cada grupo foram compartilhadas com os demais participantes.
Os integrantes do evento enfatizaram que é preciso tornar a causa mais humanitária, que ela é real e não escolhe classe, pois existe preconceito e é necessário trabalhar a desconstrução. Dentro desta questão, foi apontada a necessidade do trabalho em rede, pois, segundo eles, as informações necessariamente precisam ser plurais e integradas entre todos os setores envolvidos. Por este motivo, destacam a ideia de pensar juntos.
Também foi apresentado a sugestão de melhorar a capacitação dos profissionais da saúde para as questões sociais. Uma ideia exposta foi tratar a questão de forma educativa para as crianças nas escolas, e deste modo, as secretarias da educação precisam entrar na causa. Durante a apresentação das ideias uma reflexão que se ressaltou e foi lembrada várias vezes é a da necessidade de “trocar o eu pelo o nós”.