Apesar de ele não constar na lista de crianças desaparecidas buscadas pelas Avós, sua história de apropriação por uma família que não era sua foi reconhecida pela organização. “Trata-se de outro caso de subtração, ocultação e falsificação de identidade de um bebê no marco do terrorismo de Estado, como todos os nossos netos e netas apropriados”, declararam as Avós em comunicado divulgado na última quarta-feira (29).
“Ao conhecer sua história e a luta de seus pais para recuperá-lo, a Associação decidiu incorporar seu caso à lista de netos restituídos, como um ato de reparação e verdade histórica”, afirmou a organização.
Em outubro de 1976, Rubén Maulín, que militava no PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores), foi sequestrado por agentes da ditadura na cidade de Reconquista, no nordeste da Argentina. Luisa Pratto, sua então esposa, estava grávida de quatro meses na ocasião e foi mantida presa em sua própria casa, onde foi torturada e violentada sexualmente pelos militares durante toda a gravidez diante de seus dois filhos pequenos.
Ao nascer, José Luis foi entregue a um casal de civis que tinham contatos na Força Aérea argentina, que o registraram como filho. Sua família busca por ele desde então, inclusive Maulín, seu pai, que foi libertado pelos militares em 1982. O primeiro encontro entre pais e filho aconteceu em 2009, quando José Luis iniciou uma luta na Justiça argentina para ser reconhecido pelo Estado como filho de seus pais biológicos e usar o sobrenome que lhe cabe como tal, Maulín Pratto.
Na última quinta-feira (30), José Luis prestou depoimento em uma audiência em que constam como rés Elsa Gladis Nasatsky, a obstetra que assistiu seu nascimento, e Cecilia Góngora, a mulher que o registrou e criou como mãe, a quem ele se refere hoje como “apropriadora”. “Não necessito que ela seja condenada, me basta que ela tenha estado ali e tenha me escutado”, disse José Luis ao Página/12. “Para mim era necessário que ela escutasse o que eu tinha a dizer, que soubesse da minha boca o que provocou em mim, o dano e a perda que me provocou, o que ela me roubou: minha história”.
Fonte: www.vermelho.org.br/noticia/283183-1