O canal A&E lançará “Desaparecidos” um programa que vai contará a história de pessoas desaparecidas em parceria a produtora Iracema Rosa Filmes sob sua direção, o que te levou ao tema? Como foi esse processo para a realização final do projeto?
Sempre me interessei pelo tema por não conseguir imaginar como uma pessoa pode simplesmente desaparecer. O que leva uma pessoa desaparecer? Sempre imaginei que poderia ser apenas quando havia a intenção de matar e esconder o corpo. Ou seja, alguém providenciou o desaparecimento de maneira deliberada. Mas eu estava enganado, são muitas as causas de desaparecimentos e o programa fala justamente dessas causas, dos mistérios que permeiam um desaparecimento. Buscamos em primeiro lugar a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro e os autorizaram a ter acesso a alguns casos. Eles compartilham conosco as providencias que tomaram ou estão tomando em relação aos casos conhecidos ou não.
Como aconteceu essa parceria entre você e o canal de TV fechada?
Fizemos um programa piloto e apresentamos ao canal. Pela qualidade do trabalho e pelo serviço de utilidades pública que estaríamos prestando, eles mais que aprovaram o projeto, nos incentivaram de todas as formas possíveis a rodar o Brasil e falar com todas as 26 famílias. Sentimos que passamos a ser um fiozinho de esperança para as famílias que ainda esperam reencontrar seus familiares. Essas famílias se apegam de todas as formas em qualquer possibilidade que aparecer, tudo que possa dar mais visibilidade para o caso.
O assunto do programa é bem delicado, inclusive para as famílias que passam pelo drama de ter algum ente querido desaparecido, você acabou se envolvendo em alguma das histórias? Como funcionaram as gravações?
Fomos atrás das famílias que passam ou passaram por esse sofrimento. A ONG Mães da Sé nos ajudou muito a entender o problema do desaparecimento de pessoas. A própria Ivanise, fundadora da ONG, tem uma filha desaparecida e conhece como ninguém tudo que se refere ao assunto. A cada conversa e cada história, sem perceber, estávamos cada vez mais envolvidos com a dor e o sofrimento daquelas famílias. Foi o que nos deu mais gás para continuar e para contribuir com a causa. Não teve um caso que mais emocionou, porque todos eles são muito emocionantes. Estamos falando de mães, pais, filhos, irmãos que sofrem há anos, alguns há 30 anos e ainda esperam que seu ente querido entre pela porta.
Qual foi a história mais marcante em sua opinião no processo de gravação de “Desaparecidos” para os telespectadores?
Todas as histórias são marcantes de alguma forma, guardadas as devidas proporções.
E como cidadão, o que mais mexeu com você? Conte um pouco dessa experiência.
Como cidadão, como pai e como filho, o que mais me chamou a atenção, apesar de não ser novidade para ninguém, é a força que tem uma mãe. Mãe são seres absolutos, indestrutíveis. Qualquer estudo que já tenha sido feito para se determinar a capacidade, a força ou o limite de uma mãe, jamais conseguiu ou conseguirá mensurar com exatidão esse limite. Até porque não há. Vimos mães que sofrem, choram, se desesperam e tem esperança como se o filho tivessedesaparecido ontem, mesmo já tendo se passado 10, 20, 30 anos de desaparecimento. Temos histórias de mães que enfrentaram autoridades, bandidos, lugares ermos e perigosos em busca de seus filhos, sem medo algum. É chocante! O mais triste e difícil em todo o processo, foi presenciar mães chorando, com os dentes serrados implorando para ter de volta ao menos o corpo do filho. Muitas diziam: “Eu o quero de volta mesmo que morto, dentro de um caixão. É meu filho e só vou sossegar quando ele entrar por aquela porta ou o corpo dele aparecer.”
Agora, como diretor qual o processo mais difícil para a produção e conclusão de um projeto tão importante e de certa forma de utilidade pública?
O mais difícil é ser imparcial diante de tanta dor e sofrimento. Sabemos que há deficiências em todas as instâncias do nosso sistema, mas 200 mil pessoas desaparecem por ano no Brasil, uma pessoa desaparece a cada 11 minutos no pais. O número é gigantesco e os desafios para as autoridades também. Ao contrário do que se pensa, e até eu pensava, uma pessoa não desaparece apenas por ser vítima de crimes. Muitas são as causas e isso foi o que mais me espantou. Portanto, a maior dificuldade é ser imparcial em relação ao sofrimento das famílias, focar apenas em mostrar o fato e trabalhar da melhor forma para que o programa seja mais uma esperança para que a pessoa seja encontrada.
Em “Desaparecidos” apresenta-se dois casos a cada episódio, um solucionado e outro não. No decorre das pesquisas e gravações, vocês acabaram descobrindo coisas novas juntos com a família? Em algum dos episódios o telespectador descobrirá o desfecho “ao vivo”?
São dois casos por episódios, um caso em que a pessoa foi encontrada e outro caso em que a pessoa ainda está desaparecida. O espectador, com exceção de quem já conhecer alguma das histórias, só saberá qual caso ainda está em aberto no final do programa. Claro, ao longo do programa ele terá pistas dos acontecimentos e com certeza ficará envolvido. O mais importante é se atentar para o final do programa onde apresentaremos uma foto da pessoa que ainda está desaparecida e números de telefone para contato, caso alguém tenha visto a pessoa.
Como foi a recepção das famílias e dos desaparecidos que retornaram para casa?
A recepção foi a melhor possível, principalmente porque qualquer ajuda é bem vinda. Mesmo as famílias que já encontraram seus parentes, toparam participar para, de alguma forma, motivar as outras famílias a continuarem procurando, a não perderem as esperanças. Todas as famílias, apesar da dor e sofrimento, foram muito receptivas e colaboraram com absolutamente tudo. Abriram as portas e os corações para que pudéssemos conhecer suas histórias. Dessa forma foi possível captar o máximo possível, compartilhar as emoções e sentimentos. Será impossível para o expectador também não se envolver.
Encontraram obstáculos para a produção do programa, quais foram os pontos mais difíceis que enfrentaram?
O mais difícil foi ver o sofrimento das famílias mesmo. Nada foi mais difícil do que isso!
Na sua opinião, quais são os principais motivos que leva uma pessoa a sair do conforto de sua casa e seguir em um caminho incerto?
Os motivos são muitos. Para fugas voluntárias os principais são drogas, problemas mentais ou problemas financeiros, mas há uma infinidade de outros motivos.
O que achou do resultado de “Desaparecidos”? Qual a mensagem que pretende passar para os telespectadores?
O resultado como programa, como serviço de utilidade pública, é o melhor. A série está linda, muito bem feita. O cuidado foi imenso para que essas histórias fossem contadas com o maior respeito e maior bom gosto que merece. Sem ser apelativa, sensacionalista. São pessoas, estamos lidando com o sentimento mais puro que existe, o amor. Amor de mãe, de pai, de irmão. Apesar disso tudo, o resultado que queremos mesmo, que é o de encontrar pessoas, só saberemos após o dia 02/11. Se conseguirmos atingir essa meta, encontrar ao menos uma pessoa através do nosso programa, esse será o melhor resultado!
Já tem novos projetos em desenvolvimento, quais são?
Sim, já estamos trabalhando em outros 4 projetos, sendo dois deles em formatos parecidos com o Desaparecidos. Porém, o conteúdo as pessoas só vão conhecer quando estiverem prontos. Risos. Só posso adiantar que serão impactantes!! Estamos trabalhando também na produção de uma série de ficção para 2016. Só posso adiantar que serão 5 episódios e que tem cunho religioso. Os evangélicos e cristãos de uma maneira geral, vão adorar ou odiar. Fato é que ninguém ficará alheio. Risos
Fonte: Diário de São Paulo: http://diariosp.com.br/blog/detalhe/31188/-foi-emocionante-diz-diretor-de-desaparecidos