O Paraná é uma referência nacional na busca desses menores. Entre os 254 casos investigados no ano passado no estado todos foram resolvidos. Segundo números do Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas do estado (Sicride), 155 (63,5%) foram de meninos com idade média de 11 anos. As regiões Norte e Metropolitana de Curitiba foram as que concentraram a maior incidência de desaparecimento com 64 e 47 casos, respectivamente.
"O número de crianças desaparecidas é muito maior do que as pessoas imaginam. No Brasil é uma a cada 15 minutos, 50 mil por ano. Por isso é tão importante que os profissionais notifiquem qualquer tipo de violência observado", ressaltou o conselheiro federal Donizetti Giambernardino Filho, membro da Comissão de Ações Sociais do CFM. Desse total, São Paulo detém 25% desse total. Logo atrás vêm o Rio de Janeiro e a Região Nordeste. Estima-se, ainda, que quase 250 mil desses menores não tenham sido encontrados.
Manifestações - De acordo com a delegada-titular do Sicride, Nilceia Ferraro, em geral, os boletins de ocorrência relacionados ao desaparecimento infantil são registrados por briga de guarda dos pais, quando um dos responsáveis foge com o filho. Outros casos envolvem fuga por causa de violência doméstica ou para chamar a atenção das famílias. De acordo com ela, a polícia deve ser comunicada do desaparecimento assim que o responsável perceber que a criança sumiu, não sendo necessário esperar um período mínimo.
"Não existe um prazo para oferecer denúncia. Se a criança desapareceu imediatamente vá até a delegacia mais próxima para fazer o registro da ocorrência. Precisamos começar a trabalhar em rede, com outros órgãos, principalmente na área de saúde. Por isso, iniciativas, como a do CFM, são importantes", disse a delegada.
Mães e parentes de crianças desaparecidas também elogiaram a ação do CFM. "Estas campanhas são importantes porque sempre trazem mais esperança", afirmou Marlene Florêncio, de 66 anos, que sonha em rever sua neta, Vivian Florêncio. A menina foi vista pela última vez em 4 de março de 2005.
Junto aos médicos -O Conselho quer contribuir para reverter esta realidade. Por isso, desenvolve junto à categoria uma campanha de conscientização desde 2011. Por exemplo, no dia 25 em Curitiba, os membros da Comissão de Ações Sociais da autarquia visitaram o Hospital Pequeno Príncipe e orientaram médicos e profissionais da saúde sobre como ajudar neste esforço.
Segundo o secretário-geral do CFM, Henrique Batista Silva, os médicos precisam ficar atentos a atitudes suspeitas. “Nas consultas médicas é essencial identificar fatores de risco, como falta de afetividade e maus tratos”. Ele apontou as orientações da Recomendação CFM nº 4: “observar como o menor se comporta com o acompanhante, se demonstra medo, choro ou aparência assustada; observar se existem marcas físicas de violência, como cortes, hematomas ou até abusos”.
A pediatra Milene Meller passou por uma situação delicada há um ano. Ela recebeu um casal com três crianças com aparências diferentes e relata que os responsáveis pelas crianças desconversavam quanto a histórico de saúde e endereço da residência. “Achei aquela situação suspeita. Apesar de não perceber maus-tratos, percebi que as crianças não se sentiam a vontade com aqueles adultos. Foi então que decidi denunciar e chamar a polícia”, relatou a médica do Hospital Pequeno Príncipe que não recebeu retorno das autoridades sobre o desfecho do caso.
São Paulo – Um novo ato marcará o encerramento da Semana Nacional de Mobilização para a Busca e Defesa da Criança Desaparecida. O CFM e a ONG Mães da Sé organizam mobilização nas escadarias da Praça da Sé, na capital paulista, no dia 31 de março, às 15h. Só no estado, em 2014, foram registrados cerca de 33 mil, sendo que 28 mil foram localizados.
A meta é mobilizar o maior número de cidadãos e instituições para dar apoio e estímulo à cruzada das Mães da Sé. Na ocasião, que marcará os 19 anos de atividades da associação, cerca de 300 pessoas estarão reunidas para reforçar o compromisso com a busca dos desaparecidos e cobrar respostas efetivas das autoridades.
Segundo o médico Ricardo Paiva, membro da Comissão, o grupo também busca pela formalização de políticas públicas de enfrentamento ao desaparecimento de crianças e adolescentes, e no apoio a trabalhos de excelência. Ele apontou que um dos principais problemas é a falta de um cadastro nacional – havendo grande expectativa em relação ao seu funcionamento efetivo, que apesar de ter sido criado por lei em dezembro de 2009, deixa as famílias sem suporte oficial. “Saber sobre isso e calar, não é omissão. É conivência diante de quem não tem como se defender. É cumplicidade. Nós médicos podemos e devemos fazer muito para mudar essa realidade”, afirmou.
Fonte: CFM